02/02/2008

CASA DAS ARTES Vila Velha de Ródão


Muita gente!

CASA DAS ARTES Vila Velha de Ródão


Pela entrada da galeria foi assim a luta dos Espantalhos ou crucificados como escreveu Victor Ferreira.

TALVEZ APENAS HOMENS...


Não poucas vezes, somos acometidos de um impulso que nos remete à infância. E mesmo aí, nos encontramos num mundo dentro de outro Mundo; vivendo uma solidão acompanhada.
Idealizamos (já tínhamos idealizado), num mundo “à nossa maneira”, sonhando um mundo belo e perfeito – e que dizer daqueles que não tiveram tempo para sonhar?...
Crescemos, aprendemos as coisas do bem e do mal; mas sabemos pouco de nós mesmos e passamos a vida a dizer da “nossa importância” de ser adulto e secretamente, desejamos ser crianças. Da infância nos vem um universo de pessoas, espantalhos, crucificados, palhaços e outras criaturas lúbridas, rodopiando feito baile de máscaras. E é assim que passamos os dias nesta sociedade do “faz-de-conta”, onde o sonho é remetido para o sótão das inutilidades, enquanto nos afundamos alegremente, em reclames de néon.
Quanto ás tuas pinturas tu mesmo disseste “espantalhos ou crucificados, não sei bem...”
E talvez homens – acrescentaria eu – isto num tempo em que os espantalhos não espantam (de tanto espanto) e os crucificados não comovem (de tanto horror).
A tua pintura será tudo isso e mais que não foi dito – e talvez não seja necessário dizer – de tão evidente que é. Ou não seremos todos um pouco deste jogo onde não há regras e as leis foram feitas para serem violadas. Pediste-me para falar da tua pintura e é isso que tento fazer, mas sabes... a pintura é para ser vista – uma descrição é já uma mutilação.
No entanto, não foi por acaso que fales do regresso à infância pois, é essa a primeira impressão que fica. Isto porque, ressalta uma aparente simplicidade, onde as figuras são quase sinais abstractos, a fazer lembrar a pintura infantil; antes de nos tornarmos “adultos” – umas vezes palhaços outras vezes crucificados.
Victor Ferreira – 2001